No dia 05 de junho, o Trata Brasil divulgou mais um estudo sobre as perdas de água no Brasil. Confira a seguir como essas perdas impactam diretamente no desenvolvimento do saneamento no país.
Vamos discutir sobre:
- O conceito de perdas
- Perdas de água em 2019
- Benefícios da redução de perdas de água para expansão do saneamento
Vira e mexe estamos discutindo as perdas de água no Brasil. Um problema antigo que pouco tem mudado com o passar dos anos.
No último de 05 de junho, o Instituto Trata Brasil divulgou o estudo “Perdas de água 2019: Desafios para Disponibilidade Hídrica e Avanço da Eficiência do Saneamento Básico”. Em parceria com a GO Associados, o estudo levou em consideração os dados divulgados pelo SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) de 2017.
Atualmente, 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e 100 milhões vivem sem coleta de esgoto. Muito além da expansão das redes, as perdas de água revelam um problema grave do setor de saneamento básico.
A deficiência coloca em xeque a qualidade dos serviços e a sustentabilidade das operadoras de saneamento. Como? É o que apresentaremos a seguir.
O CONCEITO DE PERDAS
Por definição, as perdas de água estão divididas em dois tipos.
As perdas de água físicas (ou reais) consideram os vazamentos em todas as etapas do processo e os volumes utilizados para a limpeza das próprias estações de tratamento. Esse tipo de perda relaciona-se diretamente com a eficiência operacional da companhia e o estado das tubulações.
As perdas de água comerciais (ou aparentes) levam em conta as ligações clandestinas ou irregulares, ligações sem hidrômetros ou com hidrômetros com defeitos, erros de leitura e erros cadastrais.
Essa perda está ligada aos procedimentos da companhia, manutenções preventivas, adequação dos hidrômetros e monitoramento do sistema. É importante destacar que as perdas comerciais impactam consideravelmente o faturamento das empresas de saneamento.
AS PERDAS DE ÁGUA EM 2019
No Brasil, para cada 100 litros de água captada, tratada e pronta para ser distribuída, 38 litros são perdidos no caminho por vazamentos, erros de leitura, furtos e outros problemas.
Essa foi a conclusão do estudo do Trata Brasil que revelou o índice médio de 38,3% de perdas no país. Em volume, isso significa 6,5 bilhões de m³ de água tratada jogada fora.
Apenas com essa perda, seria possível abastecer 30% da população brasileira por um ano. Dá para acreditar?!
O estudo também analisou o histórico do balanço hídrico com os indicadores disponíveis no SNIS. É possível perceber que houve um aumento na produção de água, ou seja, mais água está sendo captada da natureza ao passo que o índice de perdas também aumenta.
“O aumento da produção de água pode nos levar a crer que está havendo um consumo maior pela população e demais usos da água potável, mas na verdade podemos estar tirando mais água apenas para compensar o aumento das perdas. Isso seria péssimo para a sustentabilidade do próprio sistema e para os usuários. Incrível ver que, em 2017, perdemos uma quantidade de água que poderia abastecer metade da nossa população por um ano”. – comentou Édison Carlos, Presidente do Instituto Trata Brasil.
Em termos financeiros, as perdas custaram R$ 11,3 bilhões para o país, um valor superior ao investimento em água e esgotos no mesmo período (R$ 11 bilhões).
Quando comparado com outros países, o Brasil fica atrás de países menos desenvolvidos como Bangladesh, Uganda e África do Sul. Países mais desenvolvidos, como Japão e Cingapura, mantém seus índices de perdas abaixo dos 10%.
AS PERDAS DE ÁGUA POR REGIÃO
O estudo também estratificou os dados por região. Em algumas localidades, o índice de perdas de água supera o índice médio do país.
Observa-se que a região Norte, que já possui os piores índices de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, também alcança o percentual mais alto de perdas. Na prática, significa que mais da metade da água produzida não chega à população.
Olhando para as demais regiões, nota-se que a variação percentual não é grande se comparada à média do país.
Separando por estado, Goiás é o único que têm o índice de perdas menor que 30%. Do outro lado da moeda, Roraima é o estado que mais perde: 75% de água perdida na distribuição.
“As perdas de água são um sinônimo da eficiência do sistema de produção e distribuição das empresas operadoras. O aumento das perdas mostra que há um problema de gestão e que os investimentos na redução não vêm sendo suficientes para combater o problema. Mais preocupante é pensar que num momento de crise hídrica não será suficiente pedir para que a população economize água se as empresas continuarem perdendo bilhões de litros por deficiências diversas.” – observou Édison Carlos
AS PERDAS DE ÁGUA NAS 100 MAIORES CIDADES
O estudo também analisou a situação das perdas nas 100 maiores cidades do Brasil que, juntas, representam 40% da população total do país. Nota-se que o nível de perdas supera a média nacional: 39,5% de perdas na distribuição e 39,9% de perdas de faturamento.
Porto Velho é o município que mais perdeu água no período (77,11%), enquanto Santos foi o que menos perdeu (14,32%). No geral, 81% das 100 maiores cidades possuem perdas superiores a 30%.
Confira os 10 municípios com os melhores e piores índices de perda na distribuição:
Municípios com melhores índices:
- Santos (SP) – 14,32%
- Limeira (SP) – 18,62%
- Campo Grande (MS) – 19,38%
- Goiânia (GO) – 20,82%
- Campinas (SP) – 20,91%
- Aparecida de Goiânia (GO) – 22,03%
- São José dos Pinhais (PR) – 22,09%
- Maringá (PR) – 22,50%
- Franca (SP) – 23,24%
- Campina Grande (PB) – 23,49%
Municípios com os piores índices:
- Cariacica (ES) – 59,65%
- Recife (PE) – 61,11%
- Macapá (AP) – 62,15%
- Olinda (PE) – 62,66%
- São Luís (MA) – 63,53%
- Cuiabá (MT) – 65,89%
- Paulista (PE) – 67,59%
- Boa Vista (RR) – 69,33%
- Manaus (AM) – 74,62%
- Porto Velho (RO) – 77,11%
BENEFÍCIOS DA REDUÇÃO DE PERDAS DE ÁGUA PARA EXPANSÃO DO SANEAMENTO
O estudo realizou uma projeção de cenários futuros a fim de estimar os ganhos do país com a redução de perdas. Considerando uma redução para 20% em 2033 (ano-meta do Plansab), os ganhos líquidos seriam de aproximadamente R$ 31 bilhões.
É preciso ter em mente que para reduzir as perdas é preciso realizar investimentos. A análise considerou os investimentos necessários com as ações para redução tais como troca de tubulações, troca de hidrômetros, caça vazamentos e caça fraudes.
Para Pedro Scazfuca, da GO Associados, as empresas de saneamento ficam presas a um “falso dilema” entre fazer mais ligações de água ou uma estação de tratamento ou reduzir a perda. Geralmente, acabam escolhendo investir na expansão da rede — sem fazer melhorias e manutenções na que já existe.
Além dos benefícios financeiros, as companhias que iniciam um plano de redução de perdas se deparam com benefícios operacionais. A redução do gasto de energia elétrica é um deles, pois deixa-se de gastar com uma água que não será faturada.
Também pode-se citar a renovação do parque tecnológico, garantindo maior eficiência, aumento da qualidade dos serviços prestados e a confiabilidade do cliente.
Por outro lado, há o benefício da preservação, contribuindo com a segurança hídrica e a influência positiva na comunidade sobre a sustentabilidade.
“A redução de perdas é o maior manancial que o Brasil possui. Tal desafio requer uma ação conjunta de todos os agentes envolvidos no setor. Somente com foco em planejamento de longo prazo e aprimoramento das sinergias entre operadores e poderes públicos será possível viabilizar os recursos para os investimentos tão necessários para aumentar a disponibilidade hídrica.” – considerou Gesner Oliveira, sócio da GO Associados.
É importante salientar que, seguindo a Lei das Águas, a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. É preciso que todos entendam e unam esforços a fim de garantir esse recurso valioso para todos os brasileiros e às futuras gerações.
Como está o índice de perdas em sua cidade? Em caso de dúvidas ou sugestões, fale com nossos especialistas. Nós temos a solução perfeita para você!
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